matéria @anttoniomaciel
Quando comparecemos a uma apresentação artística, seja musical, dança, teatral, ou numa exposição de artes visuais, nunca é só para contemplação ou a alegria de estar ali. Nossas memórias e nossas histórias se cruzam com tudo aquilo, e saímos com novos conteúdos e outros renovados. A arte é assim: uma vez, de alguma forma compreendida, ela vira um motor a transformar o ser e seu ambiente, continuamente em sentido e visão. Arte nunca é só entretenimento. Se alguém se envolver com arte dessa maneira, está equivocado no entendimento sobre ela no mundo.
Estive no Festival de Verão (#FV23), em Salvador. Minhas memórias musicais, e, com elas, muitas histórias, fervilharam. No primeiro dia, e este é que me interessa agora, a grade foi esplendorosa! Se apresentaram os artistas Criolo, Ney Matogrosso, Margareth Menezes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivete Sangalo e outros grandes. Entretanto, primeiro quero destacar a participação itapetinguense nos palcos principais (Cais e Ponte), João Paulo Deogracias e Raoni Maciel. João com Criolo e Ney Matogrosso, Raoni com Margareth Menezes, Majur e Larissa Luz. Estarem ali, para nós, é o tamanho do talento artístico-cultural de Itapetinga, mostrando suas garras. Assistir, pular, dançar, gritar embalado por esses conterrâneos acompanhando e dando brilho a tantos nomes nacionais e internacionais da música, enche nosso peito de orgulho por nossa arte. Saber que estão ali, meus ex-alunos, enquanto adolescentes no Colégio Savina e Cooedita, e ter participado dos primeiros passos artísticos, da primeira banda formada - Blues na Contramão - e vibrado quando entraram na faculdade de música, penso em quanto devemos ainda caminhar para fazer uma política pública, para não continuarmos com poucos, e privilegiados jovens, seguindo seus sonhos e se realizando enquanto artistas. Raoni descreveu o encontro dos dois no momento de passagem de som, como "algo mágico". João ficou visivelmente emocionado, e ali, rapidamente, eles lembraram da trajetória, das histórias que viveram. Ficaria aqui contando em milhares de linhas a importãncia deles ali. Mas não posso deixar de falar de Gil e Caetano, de Ney Matogrosso, de Margareth Menezes.
Margareth Menezes foi a nossa raiz em ritmos e representatividade. A música negra, a mulher que superou as mais diversas barreiras e hoje, além da artista que é, se tornou a Ministra da Cultura do Brasil, aclamada onde aparece. A ministra mais festejada publicamente que tenho notícia.
Ney, saudado por todos os deuses dos espetáculos se apresentou de forma magnífica, começando com a música "Eu Quero Botar o Meu Bloco Na Rua", de Sergio Sampaio. Nos presenteou com sua performance, com o seu canto. Com sua grandeza, o palco virou outro, se transformou no planeta Ney, a plateia enlouqueceu. Sua energia contagiava a todos nós.
E Gilberto Gil e Caetano? Um capítulo a parte no Festival. Todas as apresentações da noite merecem nossa atenção e elogios. Mas Gil e Caetano juntos, é desleal fazer qualquer comparação. Ninguém deveria morrer sem vê-los num mesmo show. Talento e cumplicidade no palco, como jamais vistos. Troca de olhares, dança, música, conexão com músicos e plateia. Por um momento o mundo mudou. Era outro. Mundo Gil, Caetano e nós. Não vou ficar tentando explicar a inexplicável sensação desse show. Vou encerrar com uns versos quebrados, resultado dessa explosão em minha alma.
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